O cinema chinês vive um momento de renovação que vai muito além de roteiros ousados ou efeitos de última geração. Em julho de 2025, duas notícias simbolizam essa virada: a estreia de Zhang Ziyi como diretora em Swimming 100 Meters From the Coast e a realização, em Chongqing, do SCO Film Festival, que trouxe ao palco um mosaico de narrativas regionais.
Zhang Ziyi, que conquistou o mundo como atriz em sucessos como Crouching Tiger, Hidden Dragon, agora assume as rédeas criativas de seu primeiro longa. Ambientado em províncias como Anhui, Fujian e até Taiwan, Swimming 100 Meters From the Coast mergulha na busca de uma jovem pelos rastros do passado de sua avó, desenhando memórias que atravessam gerações. A diretora reuniu Vicky Chen e o roteirista Li Yuan para formar o que críticos já chamam de um “Ultimate Team”.
Paralelamente, entre 4 e 10 de julho, o SCO Film Festival (que eu falei aqui há alguns dias) aterrissou em Chongqing com 1.500 delegados de dez países-membros, reafirmando o papel da China como hub cultural regional. Mais do que exibir filmes, o evento celebrou a capacidade do cinema de construir pontes, convidando cineastas a trocarem visões sobre identidade, tradição e futuro compartilhado.
Esses dois acontecimentos revelam, de formas distintas, um movimento de descentralização criativa. De um lado, grandes nomes do star system cinematográfico (como Zhang) passam a contar suas próprias histórias, trazendo olhares íntimos sobre família, memória e lugares menos explorados pela indústria. Do outro, plataformas como o festival da SCO ampliam o espaço de diálogo entre narrativas de diferentes regiões, impulsionando coproduções e parcerias que fogem ao eixo Pequim-Xangai.
Para a antropologia do cinema, essa conjunção é um terreno fértil de análise: há um deslocamento no eixo de poder criativo, em que roteiristas, atrizes e produtores regionais ganham voz e protagonismo. Não se trata apenas de diversificar o cardápio de gêneros, mas de questionar quem conta as histórias e de que perspectiva. Quando a direção deixa de ser um ofício exclusivo de certos estúdios e figuras históricas, ganha-se em riqueza cultural e complexidade de narrativas.
Este é o momento de ficar de olho nas janelas abertas por esses novos agentes. O cinema chinês não está apenas se reinventando; ele convida o público global a repensar as fronteiras entre autor e espectador, entre passado e futuro, individualidade e coletividade.
E você, que diretor ou obra de cinema chinês chamou sua atenção recentemente? Compartilhe suas descobertas nos comentários.
Abraços!
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