Frames e fronteiras: o Chinese Film Week em Bruxelas

Hoje acordei pensando no inevitável poder do cinema como elo entre culturas. 

Li a notícia sobre o Chinese Film Week em Bruxelas, um evento que começou em 28 de junho no China Cultural Centre, com exibição de Endless Journey, e com debates que reuniram diplomatas, cinéfilos e pesquisadores europeus, EUobserver+1Travel Tomorrow+1.

Esses eventos, para além do que eles são, eventos de gala, me faz refletir em termos antropológicos sobre o que faz uma narrativa policial chinesa gerar ponte com o público europeu? Segundo os organizadores, entre lágrimas e aplausos, o filme revelou “valores universais” e uma lógica de justiça que ultrapassa fronteiras. E talvez seja isso que torna o cinema chinês um material rico para refletir coletivismo, porque ele não apenas mostra laços comunitários, mas exerce essa função simbólica globalmente.

O gesto de apresentar uma obra dramática, que trata de justiça e sacrifício, no coração da diplomacia cultural em Bruxelas, representa uma estratégia chinesa de cooperação não só econômica, mas simbólica, por meio do soft power. É uma forma sutil de reforçar coletivismo. Ao valorizar o heroísmo em grupo, contamina a audiência estrangeira com certa lógica de pertencimento, ainda que vista de outro prisma.

No meu estudo sobre etnicidades no cinema, essa iniciativa alimenta um olhar mais amplo. A China é um país plural (com suas minorias étnicas e "maiorias", costumes, crenças) que escolhe compartilhar narrativas valendo-se de temas universais para engajar outros coletivos. E o cinema, nesse sentido, dialoga com uma lógica parecida com a que percebo em outros contextos de análises: arte que traduz o próprio ser coletivo e se infiltra em outra comunidade, refletindo no imaginário compartilhado entre diferenças.

Como pesquisador, com essa reflexão hoje me senti provocado. Devo olhar cada exibição internacional também como experimento social. E pensar sobre como as reações do público estrangeiro (diplomatas, entusiastas, migrantes) pode revelar tanto sobre percepções da China quanto sobre nossa capacidade humana de nos reconhecer na alteridade.

Curioso para saber como Endless Journey será recebido em outras capitais e se haverá tradução desse storytelling coletivo em discussões acadêmicas? 

Deixo no ar.


Abraços.

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